Colônia brasileira de cupins ocupa área equivalente a da Grã-Bretanha
Quem é da roça sabe que a cena é um tanto comum a qualquer pasto que se preze: em meio ao tapete verdinho de grama, despontam da paisagem enormes morros maciços de terra, da cor de telha. São os chamados murundus, formação do terreno que pode passar fácil dos três metros de altura e é muito comum em diversas regiões do Brasil.
Você pode já ter ouvido falar deles como sinônimo para cupinzeiros, ou a casa de cupins – como se fosse a colmeia para as abelhas. Não é isso: ao invés de ninhos, tais montinhos são nada além da terra que os insetos movimentam enquanto escavam túneis subterrâneos, buscando folhas para alimentar a colônia. Ao invés de casas, então, murundus são resíduos de escavação de um enorme canteiro de obras debaixo da terra, que dão as caras na superfície.
Apesar de estarem sempre na vista, sua origem é, até hoje, alvo de discussões entre pesquisadores. Para alguns, tais deformações no relevo são fruto da ação física da água. Certos pedaços do solo, por terem concentração de metais mais elevada, seriam mais resistentes, sobrevivendo de pé à ação lenta da água moldando o relevo.
Outra hipótese, por outro lado, argumenta que tais porções de terra seriam resultado da ação silenciosa de cupins, insetos que vivem debaixo do solo e são especialistas em cavar túneis subterrâneos. O trabalho desses pequenos seres revolvendo o solo, então, seria o responsável pelo fenômeno.
O biólogo Roy Funch, nascido nos Estados Unidos, mas que vive no Brasil desde 1978, foi quem propôs essa explicação pela primeira vez, em um artigo publicado em 2015 no periódico Journal of Arid Environments.
Agora, em um novo artigo publicado na revista Current Biology, Funch liderou um grupo que estudou um tipo mais especial de murundu. Localizados na caatinga brasileira, entre os estados da Bahia e Minas Gerais, ocupam uma área de 230 mil de quilômetros quadrados – extensão territorial comparável à do Reino Unido. Abaixo, você pode ver uma porção deles. E, garantimos, tem muito mais de onde vieram estes.
(Roy Funch/Reprodução)
Ao todo, são mais de 200 milhões de montinhos, regularmente distribuídos pelo espaço com 20 metros de distância um do outro, em média. Cada monte é formado por 50 metros cúbicos de solo e pode ter profundidade média de até 2,5 metros. Ou seja, os cupins precisaram escavar 10 quilômetros cúbicos de terra.
Lendo assim, não parece muita coisa. Mas é uma obra grande. Faraônica, por assim dizer. Segundo os cientistas, esse total de solo seria mais que suficiente para construir 4.000 pirâmides egípcias, como a de Gizé.
A analogia não é exagero, sobretudo se considerarmos a idade dessas formações. Analisando 11 amostras de terra do local, a pesquisa concluiu que os montinhos estão por lá há bastante tempo. 3,8 mil anos, para ser mais preciso.
No artigo, os autores defendem que este fato tornam os murundus da caatinga brasileira o maior exemplo conhecido de ecossistema construído por uma única espécie de inseto no mundo.
(Roy Funch/Reprodução)
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