Na natureza, você pode ser bonito ou talentoso. Não os dois.
Quem vê a imponência de um pavão com sua cauda aberta nem imagina que seu canto não agrada nada aos ouvidos. E ele não é o único: no mundo dos pássaros, o equilíbrio fez a justiça reinar entre as espécies: você pode ser lindo de morrer. Esplendoroso. Ou então ser um Pavarotti com asas, afinadíssimo. Mas não os dois.
E isso está ligado ao que a biologia chama de “seleção sexual”. Essa seleção é um processo evolutivo que molda as características que os animais usam para atrair parceiros. Por exemplo: moscas de frutas fazem “danças” para atrair companhias sexuais. Já as aves são conhecidas por recorrerem a elaboradas canções OU penas chamativas em nome da reprodução. Só um OU o outro.
Essa exclusividade (o passarinho não poder ser bonito E cantar bem ao mesmo tempo) foi descoberta por um estudo da Universidade de Oxford, que analisou mais de 500 espécies de aves. Na pesquisa, para investigar quais espécies usam quais características, o pesquisador Christopher Cooney e seus colegas coletaram os cantos de 518 espécies, e compararam suas músicas com as cores de suas penas.
Os resultados mostraram que os pássaros em que um sexo tem uma plumagem mais vistosa do que o outro – ou seja, quando a beleza é claramente um fator de atração sexual – a música que eles produzem não têm graça nenhuma. Suas canções tendem a ser menos interessantes e mais monótonas.
Já nas espécies em que os machos e as fêmeas têm uma plumagem mais parecida – ou seja, em que a beleza exterior importa menos, já que ninguém se destaca muito – os machos cantam de forma muito mais elaborada. O talento acaba sendo o critério principal para arranjar uma parceira – então as canções são mais longas em uma escala maior de notas musicais.
A razão pela qual a evolução das aves favorece um traço sobre o outro não é clara. Os cientistas acreditam que os pássaros que vivem em florestas densas com menor visibilidade dependam mais de suas músicas do que de cores para atraírem parceiros. Mas, por enquanto, nenhum estudo confirmou essa relação com o habitat.
Outra possibilidade é que que as características de atração de parceiros são complexas de se desenvolver, de modo que uma espécie tende a evoluir apenas uma. Tem lógica: uma vez que uma característica atrativa tenha começado a emergir, pode simplesmente ser inútil desenvolver uma outra.
No fim, parece que a vida amorosa dos pássaros tem um equilíbrio – e até uma certa justiça – bem maior que a dos humanos.
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