Subsecretaria ensina como identificar relacionamentos abusivos
“O relacionamento com meu agressor começou maravilhoso, ele me fazia sentir especial e amada. Mas com o tempo começou a me controlar aos poucos, minha roupa, a hora em que eu chegava e as mensagens do meu celular. Quando vi estava sendo agredida constantemente”, conta a jovem de 28 anos que sobreviveu a uma tentativa de feminicídio. Depoimentos como o dela são vistos diariamente por quem presta atendimento nos serviços estaduais de proteção à mulher.
“A quase totalidade dos casos de violência doméstica que atendemos segue um padrão gradativo que inicia com gritos, xingamentos, humilhações, torções de braço. Quando esse ciclo não é interrompido continua se repetindo numa gradação cada vez mais forte”, explica a titular da Subsecretaria de Políticas Públicas para as Mulheres do Governo de Mato Grosso do Sul, Luciana Azambuja.
Nos casos em que a mulher não procura ajuda, a violência pode se transformar em tragédia. Foi o que por pouco não ocorreu com a operadora de caixa B.S – cuja identidade será preservada -, de 28 anos, mencionada no início desta matéria. O ex-marido está preso pelo crime, que a deixou com sequelas como a perda de parte dos movimentos do braço mesmo após duas cirurgias. As cicatrizes estão também na cabeça, após vários golpes feitos com um pé de cabra.
Sinais de alerta
Hoje, B.S. confessa que houve vários “sinais” ao longo do relacionamento. Mas, por medo da solidão ela se deixou envolver e nunca contava às pessoas o que acontecia em casa. Quando a situação ficou insustentável e quis se separar, quase foi morta pelo companheiro.
Assim como ela, várias vítimas de violência doméstica atendidas pelo Centro Especializado de Atendimento à Mulher (Ceam), revelam que seus relacionamentos iniciaram normalmente, mas aos poucos é que foram tomando contornos obscuros.
Comportamentos como escolher a roupa que a mulher vai usar, como deve gastar seu dinheiro, com quem pode ou não sair e que por vezes são vistos na sociedade simplesmente como ciúmes podem ser indicativos de controle excessivo. “A mulher não pode ser tratada como propriedade, mas precisa ser respeitada como um ser que possui liberdade e direitos garantidos inclusive na Constituição Federal”, comenta.
Quando a situação extravasa o controle e inclui empurrões, apertos no braço e outras atitudes tomadas agressivamente, a mulher precisa procurar ajuda.
“Infelizmente nesses casos o agressor sempre volta arrependido dizendo que vai mudar e a mulher acredita, até se sente culpada, mas ao invés da situação melhorar ele intensifica as agressões”, alerta a subsecretária. “Nosso desafio é desenvolver políticas públicas efetivas que ajudem a romper esse ciclo antes que as mortes ocorram”, alerta.
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