Saúde | Da redação/com G1 | 23/03/2015 10h42

Dois anos após denúncias, oncologia pelo SUS segue sucateada em MS

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Dois anos após a operação Sangue Frio, que trouxe à tona denúncias de sucateamento do serviço de oncologia nos hospitais públicos de Mato Grosso do Sul para beneficiar clínicas particulares, ainda faltam assistência e estrutura adequadas para atender os pacientes com câncer pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O setor da radioterapia foi um dos mais prejudicados com o esquema de desvio de verba. A compra de novos aceleradores lineares pelo governo federal, por enquanto, é apenas uma promessa. Mato Grosso do Sul faz parte do Programa Nacional de Expansão da Radioterapia, mas, na prática, não há data para a chegada dos equipamentos. Ainda há pacientes na fila de espera por atendimento.

Por meio de nota, a assessoria do Ministério da Saúde informou que o projeto de expansão da radioterapia está em andamento em todo o país e que os primeiros aparelhos serão entregues ainda este ano. Entretanto, no estado, não há prazo definido porque os projetos das obras estão sendo readequados.

Na ação da Polícia Federal (PF), Ministério Público e Controladoria-Geral da União (CGU), 20 pessoas foram indiciadas. As investigações, que começaram bem antes da operação ser deflagrada em março de 2013, ainda não acabaram.

Estrutura precária Dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES) apontam que, atualmente, 300 pacientes fazem tratamento de radioterapia pelo SUS em Mato Grosso do Sul, 200 na região da Grande Dourados, onde está instalado apenas um equipamento para atender a demanda de 34 municípios. Os outros 100 pacientes recebem atendimento em Campo Grande, que não consegue acabar com a fila de espera. Hoje, 24 pessoas com câncer aguardam para fazer radioterapia pelo SUS na capital sul-mato-grossense.

Apenas dois aceleradores lineares estão em funcionamento para atender todos os pacientes que buscam atendimento em Campo Grande. Uma clínica particular presta serviços ao SUS e o aparelho é de última geração.

No Hospital de Câncer (HC), o acelerador linear é tão antigo que já não há peças para reposição em caso de defeito. A promessa de mudar essa realidade foi anunciada há três anos pelo Ministério da Saúde com o Plano de Expansão da Radioterapia, do Instituto Nacional de Câncer (Inca). O governo federal prometeu a entrega de 80 equipamentos em todo país e Mato Grosso do Sul deveria ser contemplado com três: um no Hospital Regional (HR), um no Hospital Universitário (HU) e outro no Hospital Evangélico de Dourados, mas nenhum acelerador linear foi instalado até agora.

O titular da SES, Nelson Tavares, acredita que houve dificuldade do Ministério da Saúde em viabilizar os recursos. "Houve até um projeto de se trazer essa industria para o Brasil para diminuir o custo dele, é um custo que passa de 500 milhões de reais na época. Então é um problema nacional, não é só de Mato Grosso do Sul. Inclusive não houve nem a licitação desses aparelhos até agora pelo Ministério da Saúde", afirmou, garantindo que, assim que o ministério licitar os aparelhos e acenar com a possibilidade de recursos, o estado inicia imediatamente o procedimento.

O programa também prevê investimentos do governo federal para construção do bunker, local com isolamento de radiação para instalação do acelerador linear, em todos os hospitais selecionados.

Em janeiro de 2014, a TV Morena mostrou a área escolhida no HR, um espaço de 1.400 metros quadrados que fica ao lado do Pronto Atendimento Médico. As obras ainda não começaram. O cenário é o mesmo no HU. O terreno escolhido para a construção do bunker fica ao lado do atual setor de radioterapia, que está desativado.

"A diretriz que damos é: primeiro faça-se a obra, crie-se a condição técnica para depois vir o equipamento e ele seja imediatamente instalado. Não queremos, não admitimos a permanência de equipamentos em caixa. Isso foi uma coisa que aconteceu há um tempo por falha de planejamento. Nós temos que ter um planejamento claro de forma que venha a obra, as pessoas para acompanhar a instalação e, finalmente, o que vem por último, o equipamento. Eu tenho quem sabe cuidar e o local adequado", explicou a presidente em exercício da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que administra o HU, Jeanne Michel.

Segundo Jeanne, os alvarás da Vigilância Sanitária e da Comissão Nacional de Energia Nuclear já estão prontos. Um concurso público realizado em 2014 selecionou dois radioterapeutas e um novo concurso deve escolher dois físicos-médicos para atuar no setor. Ainda não há previsão de quando o serviço será retomado pelo HU.

"Eu não tenho como te precisar uma data porque depende de uma conjunção de fatores. Mas estamos trabalhando para que, até o final de 2015, tenhamos a obra concluída e possamos pensar na instalação do equipamento", declarou a presidente em exercício da Ebserh.

O Hospital de Câncer ficou de fora do Plano Nacional de Expansão da Radioterapia. Há dois anos, a atual diretoria está tentando conseguir um acelerador linear com o Ministério da Saúde para atender mais de 60 pacientes por mês.

"É importante que se diga que não dá para colocar o acelerador se não tiver o bunker. O hospital tem um bunker próprio com um equipamento antigo, se vier um equipamento de radioterapia novo, a gente pode colocar nesse bunker nosso fazendo uma pequena reforma, ou mesmo fazendo e tendo dois em funcionamento: um antigo e um novo. Tendo o segundo, a gente dobraria a capacidade de atendimento do hospital e, consequentemente, zeraríamos a fila para esse tipo de exame no estado", declarou o diretor-presidente do HC, Carlos Alberto Coimbra.

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