Indústria | Da Redação/Com Dourados Agora | 25/10/2015 19h22

Cana-energia, a revolução sucroenergética está começando

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A cana-energia não é algo completamente novo, mas agora as condições se alinharam, desencadeando um interesse inédito.

A variedade aproveita a complexidade genética da cana e está sendo preparada para promover mudanças radicais no mercado de etanol e bioeletricidade.

Os números são fantásticos, difíceis de acreditar e parecem ter saído da imaginação de algum usineiro em crise. Mas a realidade é que o setor sucroenergético está presenciando o que pode ser o início de uma revolução que vai mudar a rotina das usinas e o mercado de etanol e eletricidade no Brasil.

A cana-energia foi por muito tempo uma desconhecida do setor, mas os novos resultados e a maturação dos projetos despertaram no mercado um interesse sem precedentes pela planta.

Para separar sonho e realidade é preciso conhecer os resultados que as empresas estão obtendo com a nova espécie e os motivos que fazem ela ser tão atraente.

Qual é a explicação para os números superlativos da cana-energia e porque as empresas que já testaram a planta estão multiplicando suas apostas numa velocidade inédita?

A complexidade de se trabalhar com a cana é proporcional à versatilidade que ela possui. A cana-energia é uma mudança radical e exemplar da gama de possibilidades que podem ser exploradas a partir da enorme variabilidade genética que a cana possui.

A cana-de-açúcar plantada em larga escala no Brasil é resultado de uma série de cruzamentos, mas que possuem a característica predominante da espécie Saccharum officinarum: elevado teor de açúcar e baixa quantidade de fibra.

Já a cana-energia teve seus cruzamentos direcionados para aproveitar mais os descendentes da Saccharum spontaneum, com alto teor de fibra.

A busca por mais fibra nos canaviais não é algo completamente novo no mundo. No início da década de 1970 programas de melhoramento tiveram êxito em países como Barbados, Índia, Cuba e Austrália. Aqui mesmo no Brasil o desenvolvimento da cana-energia já foi explorado na década de 1980.

Pode-se dizer que a história moderna da cana-energia no Brasil começou em 2002, quando Luis Claudio Rubio, então um executivo do fundo de capital de risco da Votorantim, conheceu o engenheiro agrônomo Sizuo Matsuoka.

Rubio estudava um plano de negócios para uma empresa formada por um grupo de pesquisadores do programa de melhoramento genético em cana-de-açúcar da Universidade Federal de São Carlos, chefiado por Matsuoka. Um ano depois, nasceu a CanaVialis.

O sucesso do negócio culminou com a venda da CanaVialis para a Monsanto, em 2008. A gigante agrícola não acreditou na nova planta e descontinuou as pesquisas com a cana-energia.

A venda para a Monsanto envolveu uma transação de R$ 300 milhões e obrigou os fundadores Rubio e Matsuoka a cumprirem, um contrato de dois anos de não-competição com a multinacional americana. Só depois disso a dupla pôde criar a Vignis.

Já a Monsanto decidiu extinguir a CanaVialis. A americana anunciou este mês que está deixando o mercado de cana-de-açúcar no Brasil.

Mas foi apenas nos últimos anos que as condições se firmaram e a planta passou a ser conversa obrigatória no setor.

O mercado de bioeletricidade amadureceu e as usinas passaram a depender do dinheiro extra gerado pelas caldeiras. Mas, se isso abriu campo para novos investimentos em cogeração, também criou as condições para o desenvolvimento de matérias-primas ricas em biomassa.

E a cana-energia promete ofuscar qualquer concorrente.

Rizoma, este é o segredo da planta. As maiores vantagens da nova variedade são explicadas pelo desenvolvimento desses caules subterrâneos.

A cana-energia, assim como a grama e o bambu, é uma planta rizomática. Esses rizomas são como os colmos, repleto de gemas, mas que ficam em contato direto com o solo. Cada gema dá origem a uma nova planta.

A cana-de-açúcar selvagem também possuía rizomas, mas como nos últimos 100 anos a busca se concentrou em variedades com maior teor de açúcar, a planta foi perdendo essa característica.

Os rizomas, associado a um sistema radicular mais vigoroso, permite a absorção de muito mais nutrientes do solo e a um nível acelerado.

O resultado são plantas que brotam mais rápido, mais próximas umas das outras (perfilhamento denso), vida mais longa e maior produtividade.

Mas esse é só o começo das vantagens. Como os rizomas ajudam a planta a captar melhor os nutrientes, a cana-energia não precisa de solos de boa qualidade, é mais resistente à seca e ao pisoteio e tem maior razão de multiplicação (4 vezes ou mais).

“Por esse sistema radicular, a cana-energia aumenta a produtividade nos primeiros cortes porque aumenta a touceira. Cada gema no rizoma dá um nova planta”, explica o diretor-presidente da Vignis, Luis Claudio Rubio.

Os dados da GranBio mostram que a longevidade da lavoura é bem maior, com necessidade de renovação a cada dez anos – contra cinco da cana comum – e chegando a 15 cortes em alguns casos.

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