Superbactérias? Entenda o problema da resistência aos antibióticos
Quem já precisou de antibióticos para tratar de uma infecção deve ter ouvido as mesmas recomendações: tomar sempre no mesmo horário, não interromper o tratamento antes do fim, evitar bebidas alcóolicas etc. Pode parecer meramente protocolar, mas esses pedidos do médico visam a evitar a resistência bacteriana.
Naturalmente, as bactérias passam por um processo de mutação que, com o tempo, faz com que os antibióticos percam o efeito elas. Funciona assim: a pressão seletiva do remédio faz com que apenas os organismos imunes a ela sobrevivam. São eles, então, que passarão os genes adiante, forçando a criação de medicamentos mais potentes.
Excluindo métodos alternativos (como a fagoterapia, que combate bactérias utilizando vírus especiais), não há muito como fugir do ciclo da resistência bacteriana. No entanto, o uso indevido e excessivo de antibióticos – além de sua utilização na agropecuária e a falta de saneamento básico – aceleram esse processo, o que pode trazer graves consequências no futuro.
Os números do problema
Atualmente, a resistência bacteriana causa 700 mil mortes por ano. Mas um relatório do Reino Unido sobre o tema, lançado em 2014, fez uma previsão preocupante: em 2050, esse número pode chegar a 10 milhões de pessoas, superior doenças como o câncer (8,2 milhões).
A pesquisa analisa ainda que o impacto econômico do crescimento desse problema pode representar um queda de até 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial – algo em torno de US$ 100 trilhões.
No Brasil, o problema também já deu as caras. Há registros em diversos estados brasileiros de surtos de KPC, uma superbactéria que ataca em ambientes hospitalares (um dos mais propícios para o surgimento de organismos resistentes). Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ela era a maior causa de infecções no sangue de pacientes de UTI no Brasil. Imune a diversos antibióticos, ela causa doenças como pneumonia e infecções generalizadas.
Como combater as superbactérias?
De maneira geral, o governo precisa implementar políticas de melhorias em saneamento básico, organizar campanhas de conscientização para a população e fiscalizar o uso de antibióticos na agricultura e pecuária. Mas, enquanto isso não acontece, médicos e pacientes podem seguir algumas recomendações.
“Acertar no antibiótico correto para cada tipo de infecção é extremamente importante”, disse Flávia Rossi, médica do Hospital das Clínicas de São Paulo e integrante de um grupo de vigilância sobre o fenômeno da Organização Mundial de Saúde (OMS). Ela explica que é preciso detectar qual é a bactéria causadora do problema o quanto antes para que seja usado o remédio adequado. “Vale dizer que existem bactérias ‘do bem’, que ajudam em certas funções do corpo e podem ser afetadas com um medicamento incorreto”, completa.
As doses indicadas pelos médicos são estabelecidas de acordo com a doença e devem ser seguidas até o fim para evitar que as bactérias voltem mais fortes. Em outras palavras, nada de interromper o tratamento, mesmo que você já esteja melhor.
Lembra da regra sobre o consumo de álcool? Ela tem uma explicação: bebidas alcóolicas são diuréticas – fazem com que você vá mais vezes ao banheiro. Só que urinar em excesso pode diminuir a concentração do remédio no sangue, atrapalhando o tratamento. Outra prática que pode interferir na dosagem correta é o hábito de cortar as pílulas ao meio. Sim, algumas são grandes e difíceis de engolir. Mas vale o esforço.
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