Saúde | Com Edgard Léda | 12/03/2017 09h30

Mais da metade das famílias sul-mato-grossenses se recusa a doar órgãos de parentes falecidos

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De acordo com os dados do Ministério da Saúde, cerca de 86 pessoas estavam aguardando por um transplante no estado do Mato Grosso do Sul em 2015. Além do transplante de tecidos (córneas), o rim e o coração são os órgãos mais necessitados pelos pacientes na fila de espera por uma doação. Durante o ano passado, 133 pessoas foram notificadas como potenciais doadoras no estado, mas somente 13 tiveram algum algum órgão ou tecido doado neste período. A alta taxa de recusa familiar (51%) tornou-se motivo de preocupação.

O médico Leonardo Borges de Barros e Silva e o enfermeiro Edvaldo Leal de Moraes, coordenadores da Organização de Procura de Órgãos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), informam que os motivos para a recusa da doação pela família são diversos: desde crenças religiosas até o desconhecimento e não aceitação da morte encefálica, o que faz muitos familiares acreditarem que a condição do ente querido com o corpo quente e o coração batendo seja um indicativo de que ele está vivo.

“Entretanto, o diagnóstico de morte encefálica – conhecida também como morte cerebral – é irreversível, ou seja, o paciente perde todas as funções que mantêm a sua vida, como a consciência e capacidade de respirar. O coração permanece batendo e os demais órgãos funcionando. Com exceção das córneas, pele, ossos, vasos e valvas do coração, essa é uma das situações em que os órgãos podem ser utilizados para transplante”, observam os especialistas.

Autorização

O consentimento informado é a forma oficial de manifestação à doação. A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica dependem da autorização do cônjuge ou parente maior de idade, obedecida a linha sucessória, firmado em documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da morte.

“Evidentemente, a manifestação em vida da pessoa a favor da doação de seus órgãos e tecidos para transplante pode favorecer o consentimento após a morte, mas, de acordo com a legislação, é a vontade da família que deve prevalecer”, esclarecem o médico Leonardo Borges de Barros e Silva e o enfermeiro Edvaldo Leal de Moraes.

Segundo números do Ministério da Saúde, 149 transplantes foram realizados no estado do Mato Grosso do Sul em 2015. Desses, 2 casos foram de rins transplantados e 147 de córneas.

“Infelizmente, o estado apresenta baixa taxa de doadores efetivos, bem como de transplantes, tendo realizado no ano de 2015 apenas dois transplantes com doadores vivos”, conta Claire Carmem Miozzo, Coordenadora da Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO) de Mato Grosso do Sul.

Gesto de Herói

Com objetivo de conscientizar a população sobre a importância da doação de órgãos e tecidos e, principalmente, colocar esse tema em pauta nas discussões familiares para reduzir a taxa de recusa, o Ministério da Saúde, em parceria com a Fundação Faculdade de Medicina da USP, realiza o Projeto “Gesto de Herói – o poder de doar vida”.

A exposição itinerante, que já passou por várias capitais do país durante esse ano, acontecerá também em Campo Grande, a partir do dia 10 de março. O estande do Projeto ficará disponível gratuitamente por dez dias no Shopping Bosque dos Ipês, para que a população possa esclarecer as principais dúvidas relacionadas à doação e transplante de órgãos.

Além da exibição de depoimentos reais de familiares de doadores falecidos e transplantados, os visitantes contarão com painéis explicativos sobre o processo e, ainda, a presença de especialistas nessa temática para responder perguntas, como os principais mitos e verdades a respeito do assunto.

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